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quarta-feira, 29 de junho de 2011

ML#04: Todo o ódio da vingança de Jack Buffalo Head,


        
   Ninguém sabia ao certo se suas histórias eram verdadeiras, mas todos os respeitavam. Era um respeito concomitante com medo.


     - Não é possível que um simples homem seja capaz de tantas proezas; resmungavam copiosamente os homens da velha cidade de Missoula, em Montana.


Alto, robusto. Suas longas barbas ruivas mostravam sua etnia estrangeira e o seu total desleixo com a aparência. Sempre usava uma vestimenta empoeirada. Seu odor era insuportável. Nunca sorria. Sua expressão facial mostrada parcialmente à sombra de seu chapéu revelava uma pessoa fria, que carregava uma dura carga de rancor e ódio. Mas aquele dia, algo estava diferente. Uma brisa assoprava anunciando que alguma tragédia iria acontecer. Todos que o temiam sentiram um calafrio ao vê-lo naquele dia. Vagarosamente, como se estivesse sendo levado pelo destino, ele entra no saloon onde era freqüentado por todos os maiores foras da lei das redondezas. Seu retrato na parede de procurado sempre o deixava orgulhoso. Procurou uma mesa ao canto. Removeu sua cartucheira com 2 revólveres e a colocou em cima da mesa. Revólveres únicos, instrumentos de uso de tantos feitos, que pertenciam ao atirador mais rápido do Velho Oeste. Passou a mão no bolso, e retirou um cigarro completamente amassado. Ele o acendeu como em um ritual pessoal. Todos observam silenciosamente tentando decifrar o que estava de errado. Jack Buffalo Head, como era conhecido.

Ao retirar seu surrado chapéu, seu rosto deixa uma lágrima escapar. Seus olhos avermelhados entregavam-no a um certo torpor. Fitou o garçom, este que sem pestanejar lhe serve com a melhor garrafa de Rum do estabelecimento. Uma tragada do seu cigarro, um gole do seu Rum. Jack se rendia aos pensamentos rancorosos e vingativos. Sua alma estava sedenta por sangue. Toda aquela dor que emanava de um coração destruído lhe dava forças para completar seu último feito. Talvez o seu maior feito.

A primeira garrafa já estava no seu fim. Jack, ajeitando o cinto, resolve juntar-se à mesa de poker.  Era também conhecido por ser um grande apostador. Tudo que sabia, aprendera com Nightrider, uma lenda. Mas algo estava errado naquele dia. Perdera tudo. Silenciosamente levantou-se da mesa, pegou mais uma garrafa de Rum e começa a se preparar.

- Se preparar para o quê?

O relógio da igreja badalou 12 vezes, anunciando a chegada do trem. Jack se mostrava perdido em tantas lembranças, mas sempre preparado. Sua fama o precedia. Passos vinham em direção ao saloon. O som era conhecido. Uma botina com solado em madeira nobre, revestida por couro de crocodilo, com esporas que aterrorizavam muitos bandidos. Era o xerife da cidade que voltara. Temido, impiedoso e muito sagaz. Ao entrar no recinto, Jack arruma o seu chapéu, acende mais um cigarro e o encara dentro dos olhos, como se estivesse ameaçando-o. O xerife, com o seu ar autoritário e prepotente para diante a porta e diz:

- Não se incomodem com a minha presença. Continuem a fazer o que estavam fazendo.

Jack vira-se para o balcão e dá um sorriso. Sua espera acabara. Foram 10 longos anos até finalmente encontrar o xerife James Franklin. Seu coração pulsava freneticamente. Era a oportunidade que ele almejava. James encosta no balcão, sempre com um sorriso cínico no rosto. Reconhece Jack. Procurado em mais de 40 estados. A tranqüilidade de Jack irritava James. Como que um bandido procurado por tamanha extensão territorial não esboçaria nenhuma reação ao ver um dos xerifes mais temidos do Velho Oeste?

- Jack, Jack, Jack. Finalmente eu o encontrei.

- Eu não estava escondido, Senhor Xerife.

- Como prefere resolver isso?

- Sabe xerife, estive pensando nisso a manhã inteira.

- E a qual conclusão que chegastes, Jack Buffalo Head?

- Eu gostei da idéia de lhe matar com esta garrafa de Rum.

- Me matar? Há há há. E por que o Sr gostaria de me matar?

Nesta hora Jack deu um longo suspiro, e em apenas 1 segundo viu toda a sua vida passar diante seus olhos. Lembrara da sua infância na fazenda, cuidando de criações e plantações. Lembrou de como era feliz com seus pais e seus irmãos. Lembrou dos seus brinquedos, dos seus amigos e de seu primeiro e único amor: Elizabeth. Lembrou de como foi o seu primeiro beijo. Sempre comparava ao doce sabor do mel. Lembrou dos cabelos encaracolados de Liza, sempre perfumados como as flores dos campos. Lembrou de seu sorriso encantador, que o hipnotizava facilmente. Lembrou dos carinhos, dos afagos que o adormeciam sempre que estivera doente. Sorriu marotamente, recordando de como era feliz tendo o amor da mulher mais encantadora que pisaste em solo. Jack era como um menino ao lado de Liza. Dia após dia, não sabia se estava sonhando ou estava acordado. Não se julgava merecedor de tantas bênçãos, mas zelava por elas. Lembrou-se de seu casamento. Mais uma lágrima cai do rosto de Jack. Acabara de recordar do exato momento em que Liza havia lhe dito que estava grávida e que torcia muito para ser um menino, pois dizia que o mundo precisava de homens como o futuro papai. Uma paz se instaurava internamente com lembranças utópicas, porém reais. Até que cessaram-se as lágrimas. O semblante muda completamente. Há 10 anos atrás, há exatamente 10 anos atrás, Jack lembra-se perfeitamente de encontrar e apanhar sua esposa em seus braços, banhada em sangue, chorando demasiadamente. Jack, abraçando-a, escuta suas últimas palavras:

- Faça-o pagar!

- QUEM, LIZA? QUEM?

- James Fraklin!


Jack ficara sem reação. Afinal, tratava-se do xerife da cidade, o homem mais poderoso da região. Este que sempre fora apaixonado por Liza, que sempre o rejeitava para viver o mais doce e recíproco amor com Jack. Ao cessar o brilho dos olhos de Liza juntamente com o seu último suspiro, cessara também a vida de Jack. Morria ali um homem puro, meigo, apaixonado. O silêncio o consumia. Com a última pá de terra jogada sob sua única mulher, Jack sela sua promessa:

- Perdi duas vidas, assim como perderei a terceira. E essa terceira vida que perderei, será para vingar a sua morte Liza, e a de nosso filho.

Jack pegou o seu cavalo, uma trouxa de roupas e partiu. Fez seu nome. Tornou-se o bandido mais perigoso e procurado de toda a região, pois sabia que somente assim o xerife iria a seu encontro. Reza a lenda que certa vez Jack Buffalo Head cravou seu nome com balas no teto de um cassino. Mas finalmente, sua espera acabara. Ao acordar de tantas lembranças, Jack pega a garrafa de Rum, quebra-a instantaneamente no balcão, segura o pescoço do xerife com uma das mãos e com a outra enfia-lhe a garrafa na barriga. O bar se agita. Jack, sentindo a pulsação da jugular de James ficando cada vez mais fraca, susurra em seu ouvido:

- Elizabeth!

James recorda. Em meio a tosses e vômitos de sangue, provoca-o:

- Cof, cof. Liza? Devia tê-la a visto implorando pela vida. Nunca comi uma mulher tão gostosa como ela. Pena que tive que matá-la, pois se ela não fosse minha, não seria de mais ninguém.

Jack exterioriza todo o seu ódio acumulado por anos. Solta um grito, arremessa James em um canto, saca a sua arma e mostra porque era o maior fora da lei da região. Em seu momento de fúria, começou a disparar em todos que ali estavam. Um por um foi caindo, manchando o chão recoberto por areia de sangue. A cada corpo caindo sem vida no chão, Jack se sentia mais leve. Poupastes apenas a vida do dono do saloon, este que saira correndo quando Jack acenou-lhe com a cabeça para sair. Ofegante, olha para o bar e se alegra com tamanha destruição. Acende um cigarro, dá uma única tragada e arremessa em meio as garrafas quebradas de conhaque. Jack sabia que não lhe restava muito tempo. O fogo o denunciaria antes mesmo de chegar ao teu último destino. Assim sendo, teve pressa.

Já fazia muito tempo, mas ele se lembrava exatamente onde enterrara sua esposa. Era perto da capelinha onde haviam se casados. Capelinha construída por ele. Parou ao lado, livrou o cavalo de todos os apetrechos e despediu do seu fiel companheiro de tantos anos. Trêmulo, ajoelhou-se diante o túmulo de sua esposa com o sentimento de dever cumprido:

- Voltei meu amor, voltei para ficar.

Inclinou-se até repousar sobre o solo. Ao deitar junto a sua esposa, um sentimento de conforto e paz o envolta. Uma última lágrima escorre em seu rosto, esta enxugada pela sua esposa que trazia consigo o tão amado filho.


Por Renatto  Neves do blog  "Machos de Respeito"




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